O Copom (Comitê de Política Monetária) manteve nesta 4ª feira (10.dez.2025) a Selic em 15% ao ano na última reunião de 2025. A decisão do colegiado do BC (Banco Central) foi unânime. Eis a íntegra (PDF – 55 kB) do comunicado.
É o 4º encontro consecutivo que a taxa básica de juros permaneceu neste nível, o maior patamar desde julho de 2006, quando estava em 15,25% ao ano –a taxa ficou neste nível de 1º de junho a 19 de julho de 2006. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava na reta final de seu 1º mandato naquele ano.
Agentes financeiros esperavam essa decisão. O Poder360 obteve as estimativas de 12 instituições financeiras e consultorias sobre o percentual da taxa básica de juros. Foram unânimes em relação à manutenção da Selic em 15% ao ano na reunião desta semana.
Leia o infográfico da trajetória da Selic:
Na reunião de julho, a autoridade monetária interrompeu o ciclo de altas na Selic, iniciado em setembro de 2024 –há quase 1 ano. A última vez que o Banco Central cortou os juros foi em maio de 2024, quando a taxa foi a 10,5% ao ano. Depois, realizou duas manutenções antes de iniciar as altas novamente.
O Copom é formado pelo presidente do BC, Gabriel Galípolo, e 8 diretores da autoridade monetária. O presidente Lula indicou 7 das 9 cadeiras que ocupam o comitê. Nenhum dos nomeados pelo atual governo votou para cortar a Selic em 2025.
O objetivo do Banco Central é levar a inflação para o centro da meta, que é de 3% ao ano. Há, entretanto, margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, o que dá uma possibilidade de a taxa atingir até 4,5% sem descumprir a regra.
Nesta 4ª feira (10.dez), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a taxa anualizada do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerou de 4,68% para 4,46%. A inflação voltou, portanto, a ficar dentro do intervalo permitido pela meta.
Os analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central projetam que a inflação terminará 2025 a 4,4%, o que é 0,1 ponto percentual abaixo do teto da meta.
Em julho, a autoridade monetária afirmou que a inflação voltaria a ficar abaixo de 4,5% no 1º trimestre de 2026. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse acreditar que a taxa ficará dentro do patamar permitido em dezembro deste ano.
O CMN (Conselho Monetário Nacional) decidiu manter a meta de inflação em 3% em 2024. Esse objetivo inflacionário será contínuo e vale até meados de 2027.
O órgão é o responsável por decidir qual é a meta de inflação. O colegiado é composto por:
Todos os 9 integrantes do Copom decidiram manter a Selic em 15% ao ano. Leia abaixo:
Os mandatos dos diretores do BC Renato Dias de Brito Gomes (Organização do Sistema Financeiro e Resolução) e Diogo Abry Guillen (Política Econômica) terminam em 31 de dezembro de 2025. Eles foram indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Lula terá que indicar outros 2 nomes que terão que passar por aprovação na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) e no plenário do Senado.
Haddad e Lula criticavam o patamar de juros durante a gestão do então presidente do BC, Roberto Campos Neto, que ficou no cargo de fevereiro de 2019 a dezembro de 2024. Atribuíam a taxa Selic elevada ao governo anterior.
Leia mais:
O governo Lula passou a ter maioria das cadeiras do Copom em janeiro de 2025. De lá para cá, foram 8 reuniões. Todos os diretores indicados pelo presidente optaram por votar por uma alta acumulada de 12,25% para 15% da Selic em 2025.
Eles também decidiram manter o patamar de juros em 15% ao ano por 4 reuniões consecutivas.
O “Banco Central de Bolsonaro” começou a ser desconfigurado em 2023, quando 2 mandatos de diretores indicados pelo ex-presidente da República encerraram e Lula escolheu Gabriel Galípolo e Ailton Aquino para ocupar os espaços. Mais duas vagas foram preenchidas pelo governo do petista em janeiro de 2024: Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.
Em dezembro de 2024, os mandatos de Roberto Campos Neto e mais 2 diretores do Banco Central terminaram. O Poder360 mostrou que, de agosto de 2023 a dezembro de 2024, os diretores indicados por Lula só divergiram do voto do ex-presidente da autoridade monetária indicado por Bolsonaro uma vez no ano passado.
O ministro da Fazenda isentou o presidente do Banco Central da responsabilidade dos juros a 15% num 1º momento. Até setembro de 2025, passadas 6 reuniões do Copom neste ano, Haddad afirmou que Galípolo assumiu “agora” e que a transição de cargo com Campos Neto foi “muito complexa”.
E completou: “Isso ainda não foi devidamente diagnosticado, o que vivemos de abril a dezembro do ano passado. A verdade ainda vai vir à tona”.
Galípolo nunca concordou publicamente com essas declarações de Haddad. Ele defende a Selic a 15% por período “prolongado”. Em dezembro de 2024, o presidente do BC afirmou que a transição de cargo foi entre “amigos” com Campos Neto. Em outra oportunidade, Galípolo afirmou que o processo de passagem do bastão foi “exemplar”.
Haddad defendeu ao longo de 2025 que há espaço para cortes de juros. Para ele, é insustentável que os juros reais –corrigidos pela inflação– fiquem perto de 10% ao ano.
O ministro afirmou ainda que há uma “teimosia” de agentes financeiros em relação às projeções econômicas, em especial da inflação. Defendeu que há “gente torcendo contra esse país”, o que atrapalha na redução das expectativas de inflação, usadas pelo BC para orientar a política monetária.
Em 20 de outubro, Lula disse que o BC vai precisar começar a abaixar os juros.


